Adriano Pires é bem-recebido, mas trocas constantes aumentam percepção de risco político.

A demissão de Joaquim Silva e Luna da presidência da Petrobras e sua substituição pelo engenheiro Adriano Pires, confirmada ontem à noite pelo governo federal, não deve trazer alterações bruscas na política de preços da companhia, pelo menos no curto prazo, na opinião de analistas.

Os bancos são unânimes em dizer que as mudanças na governança da Petrobras e nas leis em torno da companhia, aprovadas desde a crise de credibilidade que abateu a estatal durante o governo da presidente Dilma Rousseff, reduziram consideravelmente os riscos de ingerência política dentro da empresa.

O BTG Pactual lembra que os estatutos da Petrobras estabelecem que diretores e membros do conselho de administração são legalmente responsáveis por quaisquer decisões politicamente motivadas que resultem em perdas financeiras para a companhia.

A indicação de Pires, um veterano do setor de energia/petróleo e defensor das políticas adotadas pela Petrobras também reduzem o risco de interferência, aponta o Goldman Sachs. O banco americano acredita que as mudanças que possam ser propostas pelo novo mandatário deverão situar-se dentro de uma lógica de mercado.

Opinião semelhante é a do Bradesco BBI. Eventuais mudanças podem acontecer, por exemplo, na adoção de uma metodologia de precificação de média móvel para evitar reajustes constantes. Os analistas dizem que as mudanças recentes no comando da Petrobras não resultaram em alterações significativas nas suas políticas e estratégias.

A manutenção da paridade internacional de preços é importante, diz o Itaú BBA, não apenas para garantir uma perspectiva sustentável para o abastecimento brasileiro de combustíveis, mas também para ajudar a Petrobras a atingir sua meta de alienar parte significativa de sua capacidade de refino.

“A alocação ineficiente de capital pode ser mais uma vez o calcanhar de Aquiles da empresa e deve ser a principal preocupação dos investidores. Neste ponto, acreditamos que o principal risco da Petrobras é a manutenção de seu plano de negócios e, consequentemente, de sua estratégia de alocação de capital”, comentam.

Apesar de a mudança não indicar uma alteração significativa nas políticas da Petrobras, os bancos afirmam que as trocas constantes no comando não ajudam a empresa a reduzir a percepção de risco político em seu entorno, uma das principais causas da sua diferença de preços para grandes petrolíferas mundiais, mesmo em um bom momento operacional.

Os analistas Regis Cardoso e Marcelo Gumiero, do Credit Suisse, escrevem que a troca deve aumentar a percepção de risco de interferência na Petrobras por causa da alta pressão em torno da política de preços da companhia. Eles lembram que Joaquim Silva e Luna chegou em contexto similar ao comando da empresa em 2021.

O Citi chama atenção para o fato de que a Petrobras está partindo para seu 40º diretor-presidente em 68 anos, uma média de novo mandatário a cada um ano e meio, o que não ajuda a reduzir essa percepção de ingerência política na estatal. As interferências externas trazem riscos quanto à continuidade da estratégia da empresa, dizem os analistas do banco.

O UBS BB pondera que a indicação de Adriano Pires deve trazer questionamentos de governança dentro da Petrobras, mesmo sendo um nome consagrado, por causa da proximidade dele com o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e como consultor de outras empresas do setor de energia

Os analistas Luiz Carvalho, Matheus Enfeldt e Tasso Vasconcellos concordam que a mais nova mudança na diretoria da Petrobras não ajuda o investidor, principalmente estrangeiro, a reduzir seu ceticismo quanto aos riscos políticos com a Petrobras. As eleições presidenciais neste ano também pressionam a companhia e a continuidade da sua estratégia, comentam.

Na bolsa, ações da Petrobras reagiram ontem, depois da queda na segunda-feira à tarde quando surgiu a informação de mudança no comando. O papel foi um dos destaques do pregão da B3. O nome de Pires, abertamente crítico ao controle dos preços de combustíveis, foi bem-recebido e os papéis preferenciais e ordinários subiram 1,23% e 2,22%, respectivamente, depois de chegar a ganhar mais de 3% na abertura do pregão. No acumulado do ano, as ações ainda estão abaixo da variação do Ibovespa no período, de 14,49%, mas em doze meses, batem com folga a referência do mercado.

Com o empurrão da Petrobras e as notícias de um possível acordo de cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia, o Ibovespa fechou o dia em alta de 1,07%, aos 120.014,17 pontos, variando entre os 118.740 pontos na mínima e 120.900 pontos na máxima, com um volume financeiro de R$ 25,3 bilhões. Com isso, o índice retomou o patamar de 120 mil pontos pela primeira vez desde 30 de agosto de 2021.

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2022/03/30/para-analistas-petrobras-mantera-paridade.ghtml

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