Governo e concessionária avaliam impactos, enquanto MP e Tribunal de Contas pedem esclarecimentos

O acidente na obra da Linha 6 do metrô de São Paulo, ontem, provocou transtornos que devem demorar dias para serem totalmente contornados. O incidente causou o desmoronamento de parte da pista local da marginal Tietê na região da Freguesia do Ó. Também será necessário algum tempo para que a investigação apure se houve responsabilidade da concessionária ou do governo.

A cratera na marginal Tietê se abriu por volta das 9h, mas o acidente teve início às 8h21, segundo Paulo José Galli, secretário estadual dos Transportes Metropolitanos, quando um vazamento na galeria de esgoto foi detectado. Os funcionários foram evacuados do local, o que permitiu que não tenha havido vítimas. Pouco depois, o túnel da obra foi inundado e o concreto de uma faixa da principal via de acesso da cidade cedeu, o que provocou a interdição do trecho e aumentou o índice de lentidão do trânsito em toda a capital paulista nas horas seguintes.

A Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) já instaurou um inquérito civil para apurar se o conglomerado espanhol Acciona, principal sócio da concessionária Linha Uni e responsável pela obra, tem responsabilidade. Também foi solicitado um relatório preliminar para que a companhia explique quais medidas foram adotadas em relação aos danos no local e no entorno.

O Corpo de Bombeiros, que atendeu o chamado e chegou a resgatar dois funcionários que tiveram contato com água suja, informou primeiramente a suspeita de que o acidente foi provocado pela toneladora, conhecida como “tatuzão”, um equipamento conduzido por aproximadamente 45 funcionários e que faz a escavação do túnel do metrô. Contudo, o governo paulista e o Acciona desmentiram a informação ao longo do dia.

“O solo não suportou o peso da galeria e acabou rompendo. A toneladora passava três metros abaixo da galeria [de esgoto]. Não foi um choque da toneladora com a galeria”, afirmou Galli.

O governador de São Paulo, João Doria, reiterou a fala do secretário e disse que o governo e a Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) já estavam trabalhando para contornar o problema, já que a rede coletora danificada é responsável por encaminhar o esgoto para a estação de tratamento de esgoto de Barueri. Segundo nota da Secretaria dos Transportes, técnicos da Sabesp desviaram o esgoto para outros interceptores”.

O Acciona pronunciou-se por meio de comunicado afirmando que o acidente aconteceu pelo rompimento da tubulação de esgoto, mas não informou sobre o que pode ter causado o vazamento e o rompimento da coletadora. Essa é a resposta que as investigações terão que buscar para determinar se houve imprecisão diante das condições do terreno ou se o evento será considerado como um acidente natural.

Para o professor da pós-graduação do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo (USP) Pedro Côrtes, com base nas informações disponíveis até o momento, o mais provável é que se trate efetivamente de um problema de geotecnia, ou seja, uma consequência do comportamento do solo no local.

“Pelo que nos foi informado, a perfuração estava sendo feita há três metros de distância [da galeria de esgoto] e não estavam prevendo nenhum impacto na tubulação. O que pode ter acontecido é que, em razão das chuvas, é possível que o solo não estava tão coeso quanto se imaginava e isso pode ter causado um deslocamento do solo a ponto de romper”, disse o professor.

“O tatuzão avança muito lentamente e não é uma perfuração que cause impacto ou tremor tão forte. Mas o solo pode ter ficado muito umedecido e ter favorecido a ocorrência dessa movimentação que fez a tubulação romper”, acrescentou Côrtes.

Procurados pelo Valor e questionada sobre quando a obra poderá ser retomada e se há seguro contratado para esse tipo de sinistro, a Linha Uni e o Acciona não responderam. Declararam que pretendem se pronunciar somente por meio de comunicados. Um diretor da companhia esteve no local e disse a repórteres que a apuração será realizada.

Diante da suspeita principal de que o acidente tenha sido consequência do deslocamento do solo, Côrtez acredita que não demorará tanto tempo para a liberação total da marginal Tietê para o tráfego. Porém, a retomada dos trabalhos da obra no metrô terá que superar obstáculos antes de voltar ao ponto anterior ao do acidente.

“Agora, pelo que foi informado, estão desviando o esgoto para outras tubulações para poder trabalhar na recomposição dessa parte que foi rompida. Em seguida, poderão fazer a reparação da pista. Imagino que isso leve uns três dias ou perto disso”, comentou o professor da USP.

“Mas a obra em si dependerá da limpeza de toda a lama de esgoto que invadiu e também uma análise técnica para garantir que haja coesão suficiente para que a perfuração possa prosseguir”, concluiu Côrtez.

Em seus pronunciamento sobre o acidente, o governador João Doria disse que quer a obra reiniciada o mais rápido possível, seguindo os protocolos técnicos de seguranças. Mas nem o governo estadual nem o Acciona disseram se haverá mais atrasos em um projeto que já ficou parado entre 2016 e 2020 e foi retomado como a primeira parceria público-privada (PPP) da gestão atual. O prazo estipulado em contrato para a entrega é 2025.

Enquanto a concessionária e o governo avaliam os impactos, o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo deu o prazo de 30 dias para que a Secretaria dos Transportes Metropolitanos e o Acciona apontem as causas e digam qual será o tempo de atraso para concluir a obra.

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2022/02/02/obra-do-metro-desaba-e-gera-transtornos-em-sao-paulo.ghtml

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